Apr 30, 2010


Depois de ler algumas críticas a respeito do filme que colocou a Lúcia Puenzo no hall da nova geração de cineastas latino americanos, senti extrema necessidade de expressar minha opinião a respeito.

XXY é um filme incomum: tanto por seu tema, que consiste ainda em um tabu social; como pela forma em que foi traduzida visualmente esta historia. Em resumo o mundo abordado é o mundo pessoal de Alex, um adolescente hermafrodita, que vive numa cidadezinha do sul do Chile, com seus pais. Alex foi levado para longe de sua cidade natal como uma tentativa, por parte de seus pais, de protegê-lo – um ato mais ligado à covardia e vergonha dos pais do que ao bem-estar da criança. O tempo se passa e Alex é tratado por seus pais como menina, fazendo uso inclusive hormônios femininos, ministrados por sua mãe. Mas rapidamente se vê que esta não é uma escolha consciente e pessoal do adolescente. Após situar o espectador da condição da família, começa-se a historia: a mãe de Alex convida um grande cirurgião argentino para passar uns dias em sua casa e em contrapartida analisar se Alex está apto a realizar a cirurgia de definição do sexo. O médico chega com sua família: a esposa e o filho também adolescente. Acontece então um tipo de relacionamento casual/consensual entre os adolescentes.

Lendo as criticas não tive como não reparar que a maior reclamação vinha pelo fato de Puenzo não ter explorado mais o envolvimento romântico dos adolescentes. “Quando a historia começa o filme acaba”, disseram alguns. Sinto muito, colegas, mas tenho que discordar. O tema central do filme não foi em momento algum o relacionamento amoroso de Alex, mas sim a sua condição e a sua relação consigo mesmo. Alex é a alma do filme, e todas as suas questões levantadas ao longo da película foram sim finalizadas. Um personagem raro como este não pode ser tratado de forma convencional e não se pode esperar que as tramas que o cercam seja os mesmos de 8 a cada 10 filmes. Este não é um filme de amor. É um filme sobre a dor e a duvida de não saber direito quem é; de se sentir excluído, de desconhecer os outros membros da sua família, de não poder contar as pessoas quem você é, ou qual a sua condição; de não ter amigos; de não saber o que se quer. Alex não sabia se era menino ou menina, se gostava de menino ou menina, se deveria ou não continuar com os hormônios, se deveria ou não contar ao seu único amigo a sua real condição.

A narrativa se desenvolve de forma totalmente linear, sem uso de flashbacks nem nada do tipo. Mas também, que lembranças este personagem pode ter, se seus pais suprimiram isso? O filho do médico é decisivo na vida de Alex, mas não da forma romântica que todos pensam. Sua atuação realmente se faz importante porque é ele que traz tona as duvidas que Alex mantinha de forma totalmente subjetiva.

Da metade para o fim do filme temos as decisões de Alex e as conseqüências disso: de contar ao seu amigo e ter sua intimidade exposta para os outros garotos da cidade, e ser violentado por isso; de resolver parar com os hormônios e deixar seu lado natural masculino aflorar; de se envolver com o garoto argentino que está prestes a ir embora; e por fim de ter a aceitação total por parte de seus pais. Alex aprende a lidar consigo e essa foi sem dúvida a melhor resolução para esse filme. Não sabemos se ele se relacionou posteriormente com a amiga de rápida aparição ou com o garoto argentino, acabamos não identificando claramente a sexualidade dele, mas e todas as grandes decisões que ele tomou no decorrer do filme, não contam?

Este é um filme extremamente sensível, delicado e poético. Puenzo conseguiu contar uma historia tão complexa sem cair em momento algum em estereótipos. Uma obra extremamente agradável aos olhos, composta por belíssimas tomadas, e que conta com uma das grandes atrizes desta nova geração, a Inés Efron.


Texto por Angie Marinho

Apr 28, 2010

Buio Omega

O filme começa com uma mulher espetando uma boneca de vodu e outra mulherobservando. Logo se descobre que a mulher que observa é uma governanta (Iris) que encomendou o vodu para a namorada do patrão (Frank), um taxidermista (pra quem não sabe, taxidermia é a "arte" de empalhar animais), que estava internada em um hospital.


Como todo bom filme da década de 70, italiano, é bem visceral. Admito que sou forte pra filmes assim, mas esse me deixou ligeiramente enojada. Fato que algumas cenas são bem forçadas e nota-se um leve desleixo, mas no geral, é um filme, para espectadores menos acostumados, bem asquerozo.

Uma das primeiras cenas chocantes é do taxidermista empalhando sua namorada morta. Em seguida ele é descoberto por uma garota que invadiu seu carro na estrada enquanto ele trocava um pneu furado. Essa garota acaba morta, desmembrada pela governanta, que o ajuda em todos os seus servicinhos (e em outros mais). A partir disso é morte atrás de morte. Uma prostituta, uma vizinha que corria e nos arredores da mansão onde mora o rapaz e até a própria cunhada dele, que descobre a irmã morta e empalhada e tem um destino parecido.

Não conheço a filmografia de Joe D'Amato, mas sei que os filmes italianos quase nunca decepcionam. Buio Omega é muito realista: a cena em que Frank tira os órgãos internos de sua namorada para realizar o empalhamento é brutalmente real pois, reza a lenda, foi feita uma autópsia real em uma aula de anatomia.


Fora as cenas escatológicas, há muita nudez, pois Joe era bem chegado em uma baixariazinha (tendo, no curriculo, filmes como Porno Holocaust e Erotic Nights of the Living Dead), e isso tudo mesclado a cenas românticas de Frank e sua "boneca", como Iris se refere à namorada morta do rapaz.

Um filme bem produzido para a época e com efeitos bem realistas, e bastante criativo quando se trata de escatologia. Realmente não recomendado para estômagos fracos.

Texto por Monique Monteiro

Apr 27, 2010

Esse texto foi escrito por mim e postado no blog Marginalia em 13/08/09.

Elogio ao Mau Gosto

Há alguns meses eu fiz um post com esse nome no meu blog pessoal. Quem quiser dar uma olhada, o link está aí ao lado.
Basicamente, eu falava dos filmes "fortes", que "chocam", os bons e os ruins. Ontem eu assisti a um deles, infelizmente, um filme ruim...e tive a idéia de postar aqui.

O filme que vi ontem foi "Ett hål i mitt hjärta", traduzido "Um vazio no meu coração". Eu estava extremamente ansiosa para ver esse filme, visto que é do mesmo diretor de "Fucking Åmål" e "Lilja 4-ever". Lukas Moodysson me impressionou demais com esses dois filmes. O primeiro é simples, conta a história de duas meninas que se apaixonam e enfrentam as pessoas da escola, família e etc. Meio clichê, mas para um diretor que estava começando, estava ótimo. Aí veio a Lilja e digo que fiquei completamente apaixonada pelo cinema de Moodysson. Lilja é uma garota abandonada pela mãe (ela vai para os EUA com o marido e a deixa sozinha em casa) e faz amizade com um menino em situação parecida com a sua. Até que ela conhece o homem dos seus sonhos e o conto de fadas deixa de ser tão lindo assim. Moodysson chocou, fez o peito doer e a cabeça rodar. Não era à toa que eu estava ansiosa para ver "Um vazio no meu coração". Fiquei o filme todo tentando entender o que ele quis dizer e não entendi nada. Já vi muito filme pesado, mas esse não me passou nada, a não ser um amontoado de clichês. Lá estão as cenas ditas "fortes": masturbação com uma escova de dentes, cirurgia vaginal, vômito, gente pelada o tempo todo. Mas não convence. É apenas um filme idiota e pretensioso. Na hora eu me lembrei do "Sweet Movie", um filme da década de 70 que também é forçado e chato. Mas é diferente, o filme é antigo, estava bem naquela fase de experimentações no cinema. Moodysson podia ter feito diferente.




Agora eu me questiono: por que o ser humano gosta desse tipo de filme? (Dos bons, claro)
Eu sou completamente apaixonada por filmes como "Gummo", "Pink Flamingos" e até mesmo "120 dias de Sodoma", que é tão criticado por um monte de gente. (Já falei deles no meu blog pessoal).
E confesso que estou ansiosíssima para ver "The Antichrist", novo filme do Lars von Trier, que causou sensações diversas em Cannes. (Aliás, em breve vou falar de Trier aqui...)

Algum comentário a respeito desse gosto humano pelo mau gosto?


[Michelle]