
Amélie
Por E. Meneghini, ou, "Preta"
Gosto do cheiro de poeira quando as primeiras gotas de chuva tocam o chão. Gosto de derivar (por mais que a geografia me prenda aos mesmos caminhos). Adoro observar as formigas na calçada, seus trajetos e trejeitos. Detesto sons de sacolas plásticas, odeio ler em voz alta e não gosto de músicas que demoram uma eternidade para começar.
Podem parecer observações sem sentido. Afinal, seria mais fácil dizer que gosto de chocolate e odeio falsidade, assim como milhares de pessoas o fazem. Raramente pensamos nesses detalhes e, creio eu, muitas pessoas nem sequer pensam em pensar nisso. A propósito, pense em quem é você sem imaginar o óbvio. É difícil, não é?
Isso não é um texto de autoajuda (um viva ao acordo ortográfico) ou autoconhecimento, porém, Jean-Pierre Jeunet talvez pudesse nos ajudar. O diretor francês traz a tona em “O Fabuloso Destino de Amélie Pouilan” o retrato do altruísmo, e da vida de vários personagens, através de uma riqueza de detalhes admirável. O ar leve e inocente da vida de Amélie (personagem principal) consegue ser transmitido de maneira excepcional: a união entre cores, enquadramentos, movimentos, cortes, diálogos com humor e emoção na dosagem exata e, é claro, a trilha impecável de Yann Tiersen. É o conjunto que torna essa uma obra singular e memorável.
Citando cores, o verde e o vermelho predominam durante toda a produção. O verde, para nós, é esperança. Já o vermelho ainda é uma incógnita. Várias coisas ao mesmo tempo. É amor e violência. É paixão e ódio. É sangue e coração. É o bem e o mal. São cores contrastantes em seus significados. Contrastantes assim como o próprio filme que retrata um modo de ver/viver a vida completamente oposto da realidade que nos acostumados a vivenciar.
Os detalhes que passam despercebidos frente à tão incômoda rotina podem estar nos lugares mais inusitados. Não precisamos olhar com outros olhos! Os olhos são os mesmos, basta enxergarmos tudo de maneira diferente. É preciso sair do ponto comum. Sejamos então, um anão de jardim descobrindo o mundo existente além da nossa porta. O detalhe que pode mudar vários destinos pode estar na próxima rua, na próxima esquina, no ponto de ônibus, na padaria e, por que não, em uma caixinha?
Em um mundo em que o único foco é o próprio umbigo, talvez a solução pra tudo fosse uma “Fantástica Fábrica de Amelies” (?). Bom, sem mais ‘detalhes’ (perdoem-me o trocadilho), pra não estragar a surpresa daqueles que ainda não assistiram ao filme, é isso.
IMDB: http://www.imdb.com/title/tt0211915/
*E. Meneghini, além de grande incentivadora dessa viagem blog(u)ística e amiga é uma brilhante redatora.
4 comments:
e mal sabem aqueles que os olhos da amélie estão sempre por trás das máscaras usadas diariamente. Tão fácil e tão impossível ser amélie todos os dias! Preta, ficou ótimo!
Manuzera!
Amélie... todos os dias... máscaras... olhos... possível!
Ae a Pretona se interando com as letras!!!
Quequeilson!!! bjooooo
o filme mais perfeito do mundo!
eu amo o põr do sol, amo o vento na cara, e o cheiro de chuva molhada. Amo ouvir música e olhar pela janela, enquanto vou pra facul. Aliás, sempre que ando de ônibus, prefiro a janela. Amo água. Amo fotos. Gosto de observar a chuva de noite, de ouvir o som dela caindo, de observar a lua. Mas quem se importa? amo o contraste do verde e do vermelho no filme. AS vezes, queria ser o anão.. queria que alguém me pegasse e me levasse pra conhecer o mundo...
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