Aug 16, 2010



Meu primeiro contato com Haneke foi através do filme "A Professora de Piano" e me causou um certo estranhamento. Mas depois de ver "Funny Games", passei a admirar muito seus filmes. E com "Caché" não foi diferente.

Um casal francês passa a receber estranhas fitas que mostram uma filmagem de frente de sua casa. Aos poucos, as fitas passam a chegar acompanhadas de mórbidos desenhos infantis. O problema aumenta quando recebem uma gravação da casa em que o marido, Georges, cresceu. Descobre-se então que Georges teve um "irmão" adotivo, que saiu de casa ainda criança e sofreu muito.


O que se espera de um filme normal? Que os mistérios sejam revelados e resolvidos. Com Haneke isso não acontece. São cenas perturbadoras, um clima de tensão que culmina em um final dolorido. Haneke não é para qualquer um, e nem vou entrar no mérito de ser filme cult ou não. A questão é que o cinema dele foge completamente do que estamos acostumados a ver. Cenas longas, closes, diálogos...tudo é estranho.

Já tive longas discussões com amigos sobre isso, somos criados para o começo, meio e fim, tudo precisa de uma explicação. Quando não tem, logo é tachado de "chato", "cult" ou qualquer adjetivo que seja. Lynch quase nunca nos explica o que está acontecendo, nem Trier.

Gostei bastante do filme, quando ele termina fica aquele pensamento de "e agora?". Haneke trabalha muito com a imaginação da pessoa que está assistindo ao filme e consegue resultados fantásticos.

Texto por Michelle Henriques

Pra que é fã de histórias de vampiros (as boas, nada pós-Crepúsculo) esse é um nome muito conhecido: uma Condessa Húngara que, para manter-se jovem, banhava-se no sangue de suas criadas. Mas engana-se quem espera um filme repleto de sangue e sadismo, como nos filmes da produtora inglesa Hammer: logo no início, a muito jovem Elizabeth (ou Erzsébet) e o também jovem Conde Ferenc Nadasdy são prometidos em casamento. Com o passar do filme, eles se casam, tem filhos e Nadasdy vai à guerra. São amorosos um com o outro, e Elizabeth é uma boa patroa para com seus criados, a mantém até uma espécie de hospital nas masmorras de seu castelo.

Pelo que conheço da história de Bathory, ela teve um breve relacionamento com um camponês, ficando escondida até seu casamento com Nadasdy, diferente do filme, onde os dois consumam o casamento assim que se casam, e tem flhos. Assim como o filme relata, Nadasdy era soldado e ficava longos períodos em campos de batalha, deixando sozinha Elizabeth. Nesses longos períodos que suas atividades começaram. Era certo que na época de Bathory, o comportamento dos patrões para com seus empregados era no mínimo cruel, mas Bathory se destacava: ela não só os punia por sairem de "suas rédeas", mas também gostava de vê-los sendo torturados e até mortos, e nisso o filme peca, mostrando uma Elizabeth bondosa que até livrou um jovem frade de ser punido por espionagem porque o reconheceu de sua juventude, quando o curou de machucados causados por um animal selvagem.

No filme, Nadasdy era um bom marido, e até escrevia cartas à sua amada Elizabeth no campo de batalha, em meio à tiros e explosões. Na verdade, não: Nadasdy também era cruel e sádico como sua esposa, e até a ensinou alguns métodos de punição. Após a morte de Nadasdy em 1604, Elizabeth se mudou para Viena, e como companhia, tinha uma curandeira de nome Darvulia, que aparece no filme. Darvulia cuidava de Elizabeth, fazia sua comida e sua bebida, e não a deixava comer ou beber nada que não fosse preparado por ela mesma. Mas Darvulia trai Elizabeth e é mandada à prisão, onde morre pedindo a ajuda de Deus. Darvulia existiu, mas não era uma bruxinha wiccan que faz chás e acende insensos para acalmar a bela Elizabeth, e sim foi a ajudante em vários de seus crimes, vindo a falecer em 1609, muito provavelmente pedindo a ajuda de Satan em vez da de Deus, como no filme.

Não é mostrado, mas após a morte de Darvulia, Elizabeth buscou a ajuda de Erzsi Majorova, viúva de um inquilino seu, e esta foi a responsável pelo seu declínio, encorajando-a a escolher mulheres nobres para serem suas vítimas.

Assim como no filme, Elizabeth foi julgada pelo Conde Thurzo, que foi vilanizado no filme: sua motivação é conseguir o que Nadasdy o prometeu antes de morrer: 1/3 de suas terras. Thurzo faz de tudo para conseguir, desde tentar seduzir Elizabeth à manipular o rei e outros nobres a deporem contra Elizabeth, dizendo que ela tomava banhos com o sangue de suas vítimas. No filme, a bondosa Elizabeth toma banhos de ervas (?). Elizabeth foi julgada 2 vezes, e foi encontrada uma agenda contendo o nome de todas as suas vítimas, nada menos que 650, e todos os nomes escritos pela própria Elizabeth.


Fora os pequenos deslizes e licensas poéticas, o filme é visualmente muito bonito, em especial para quem gosta de castelos e vestidos pomposos. Mas não espere uma história muito fiel e não se encante com a bondosa Elizabeth interpretada por Anna Friel (da série Pushing Daisies).

Texto por Monique Monteiro